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quarta-feira, 9 de março de 2011

Depoimento da ex-aluna:Maria Alzira Lemos Pereira

Ginásio Clóvis Salgado
Aluna: Maria Alzira Lemos Pereira
Turma: 2ª
Quase fui da primeira turma. Mas eu era muito nova, só 10 anos. Então o Dr. João Silva Filho (então prefeito e um dos responsáveis pelo nascimento do ginásio) procurou o meu pai e o aconselhou a deixar que eu fizesse antes o “curso de admissão”, na época o correspondente à 5ª série. Fiquei um pouco frustrada, já havia feito o “vestibulinho” e me saíra bem, não foi fácil contornar a minha frustração infantil.
Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Obrigada Dr. João Silva Filho!
No ano seguinte entrei para o ginásio, com direito a uniforme caqui, gravatinha xadrez, chapéu caqui com uma bandana xadrez igual à gravatinha.  O conceito era ótimo, se bem executado, mas a realidade da confecção doméstica era um terror. E ai de quem não apresentasse o uniforme completo... Tinha pontos anotados na carteirinha, pior que CNH, e se não perdia a licença de dirigir, tomava suspensão... Felizmente durou pouco o chapéu, acho que uns dois anos...
E aquela ladeira, imensa, íngreme, cheia de pedrinhas que nos faziam escorregar na correria. Quanta tampa de joelho deixei ali...
Mas a minha turma, não tinha igual! Margot (Margarida Maria Camarini Santos), Dadaça (Maria das Graças Campos), Ana Maria Tavares Belatto, Sandra Siqueira (do Hotel Elite), seriam companheiras por muitos anos, na alegria e na tristeza, nas folias e nos castigos, até que o diploma de “Curso Normal” nos separasse.
Foi  a fase mais importante da minha vida. Foi quando aprendi a questionar, a experimentar os limites, abrir horizontes. Foi  época de consolidar valores que já haviam sido muito bem plantados pela minha família, tais como respeito, disciplina, solidariedade, companheirismo – sem abrir mão de liberdade, principalmente de expressão. E lá estavam os mestres, com uma dedicação e competência que não me lembro de ter encontrado muitos pelo resto da minha vida de estudante.
A Dona Martha (não tinha esta de “tia”, os mestres eram o Sr. e a Sra.), professora de português e de francês. Cada aula era um “espetáculo”. Ficávamos hipnotizados com a sua interpretação. Um erro de concordância significava nota zero na redação. Não tinha tolerância. As aulas de literatura eram uma viagem, que delícia. Traziam junto muito de história, ela era uma verdadeira artista. Até hoje me pergunto como foi que a partir da segunda aula de francês, ela nunca mais falou conosco uma palavra em português durante as classes da matéria. E nós entendíamos. E me lembro até hoje do Padre Nosso naquele idioma, além de músicas e versos, e muitas palavras assimiladas naqueles dois anos (1ª e 2ª séries).   
A Dona Tonete (Maria Antonia Penido Maia professora de matemática), cuidou de nos ensinar a raciocinar. No meu caso particular, tive o privilégio de tê-la como professora desde o 2º ano primário até o final da 4ª série do Ginásio. Hoje percebo a importância que teve na minha vida, na minha preferência pelas ciências exatas. Acabei fazendo Ciências Econômicas, e minha vida profissional no sistema financeiro, aonde cheguei  ser Diretora de um grande banco nacional, teve  base nos seus ensinamentos. Apesar de sua aparente austeridade, é a pessoa que me calou mais profundamente na alma. Posso dizer que a amei como uma segunda mãe. E “paguei muito mico” por isto, era tida como puxa-saco pelos colegas adolescentes. Não me arrependo um segundo e até hoje me emociono muitíssimo quando me lembro dela.
E teve a Dona Dirce (Penido, irmã da D. Tonete), professora de história. Brava...! Mas sabia tudo! Fazia-nos tremer nas bases com as “argüições orais”, sem agendamento prévio. Toda aula alguém tinha que falar sobre a matéria anterior, claro, de pé, valendo nota.
E havia outros, cada com seu brilho especial (Dr. Benedito Valias – dentista-, ensinava ciências). A cidade não tinha um corpo docente com formação didática especializada, ia se arranjando com a boa vontade dos profissionais que podia dispor. Mas cada um desempenhava com dignidade e respeito a função, tendo na direção o Dr. Antônio Almeida, um pouco diretor, um pouco médico, um pouco paizão desta turma toda. Pensando bem, um pouco é pouco, na realidade ele era muito de tudo isto. Um baiano de calça de linho branco, com as maçãs do rosto vermelhas, óculos de lentes grossas e um sorriso paciente, sempre.
Hoje estou aposentada, sou empresária. Parar de trabalhar, nem pensar, até porque quem pode viver de aposentadoria no nosso país? Não amealhei grande fortuna, mas me considero uma pessoa “rica”. Por tudo que vivi até aqui, por tudo que ainda pretendo viver, pelos amigos que fiz e que guardo no coração (embora seja extremamente preguiçosa para contatá-los com a freqüência que merecem).
Do Ginásio “Estadual” Clóvis Salgado trago boas lembranças. Sou imensamente grata a todos, professores, colegas, assistentes, bedéis (ai!).  Quase ia me esquecendo da fanfarra! Que delícia! Amava tocar nas “alvoradas” em datas cívicas. Sei que, de tudo que fui, do que hoje sou, muito devo àqueles memoráveis anos.


1968-acervo E.E.Clóvis Salgado

3 comentários:

  1. Texto elegante! Mas ela esqueceu de contar um fato inusitado e muito bonito que ocorreu na escola aquele ano. A professora dona Tonete, precisando urgentemente de um afastamento rápido da escola e sem substituta, treinou aquela aluninha, Maria Alzira, para ocupar seu posto à frente da sala de Matemática. Diante de todos os colegas, lá estava a menina... a criatura da criadora Tonete... lindo, lindo, lindo. Deu tudo certo na matéria nova de Maatemática! Olha o que acontecia nequeles tempos! M.

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  2. quem são essas pessoas? reconheci dona Marta... e aquele, poderia ser o Inácio? ajuda aí, colegas!

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  3. Vocês estudaram com minha mãe, a Ieda?

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