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terça-feira, 17 de maio de 2011

Um estranho mundo -Sandra Maria Teixeira Ribeiro

(Acervo E.E.Clóvis Salgado- 1972)

UM ESTRANHO MUNDO

                   Em homenagem às professoras Rosana Pires de Oliveira e Anne Walsh que, por serem também boas amigas, certamente perdoarão os erros de meu texto.”
A culpa não era dos professores, mas sim de que não é possível gostar de tudo nessa vida. Portanto achava a matéria ciências – ou biologia - azeda e, como tinha certeza absoluta que ela também não gostava de mim, deduzia que cultivávamos uma antipatia recíproca e irremediável. A minha parcela de responsabilidade, ao não compreendê-la, se justificava por eu não aceitar certas coisas. Como, por exemplo, que a jaqueira de meu quintal se chamasse Artocarpus heterophylla. Ou um singelo tomateiro fosse, na verdade, o Lycopersicum esculentum...   

É verdade que a jaqueira de minha horta não era uma jaqueira e sim um abacateiro, porém este possuía uma “nomenclatura binária” (!) simples: Persea americana. Além disto, à exceção da palavra “americana” que era antipática à quase todos os brasileiros antigos, achava a palavra “Persea” linda e adequada, não somente como nome de pessoas, mas até de gatas. Dava para virar uma personagem e até para inventar uma história:... “Era uma vez um gata persa chamada Persea...” No entanto eu tampouco gostava de gatas e problema era realmente o nome científico da jaqueira! Então, somente para não me esquecer de minha implicância, fazia de conta que em meu quintal havia um enorme pé de jacas sombreando um pequeno tomateiro. Para compensar, batizei minha boneca de “Persea”, embora ela não fosse persa, mas brasileira e, no final das contas, como ainda continuasse obcecada com a flora e a fauna, também apelidei meu cachorro vira-latas de Abacatus. Infelizmente ele já morreu, mas ao menos pôde viver uma cachorrice tranquila, fuçando somente em restos de sardinhas e salsichas, pois, se fosse hoje, Abacatus teria o mesmo destino de seus descendentes e estaria feito um doido atrás das garrafas pets.
E evidentemente não poderia me esquecer das células! Era um Deus nos acuda, porque se dividiam fazendo a mitose ou a meiose e, como não fosse suficiente, ainda uma tal de prófase ou metáfase ou anáfase ou telófase... Eu não decorava aquelas coisas nem com reza brava e não entendia para que tanta confusão de nomes.      
                                                                                                    Continua...


Um comentário:

  1. estou adorando! quando teremos o próximo capítulo? pelo menos uma dica deveria estar no texto. muito boooom! manda mais! viva Cambuquira e sua galera inspirada! parabéns!

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