VITROLAS
Não sei por que o francês demorava mais a se ajeitar em nossas bocas e mentes que o inglês. Talvez por causa da enorme quantidade de acentos, uns ao lado dos outros, nas mesmas palavras. Injuriada eu olhava aquilo e pensava: - Seriam apenas letras ou seres de outros planetas?
Então tínhamos que colocar a língua não sei onde para o francês e não sei onde para o inglês, exagerando nas caretas. Um horror.
Amenizando a concorrência desleal com o inglês que já ocupava a maior parte das programações das rádios e para que conhecêssemos melhor os compositores e intérpretes franceses, Dona Irma Costa Alencar ocasionalmente carregava uma pequena vitrola portátil e alguns discos de vinil. Em seguida caminhava sorrindo pela sala enquanto acompanhava o ritmo da música, batendo com uma régua sobre a palma da mão.
Por essa época Dona Irma também viajou até Paris e, ao voltar, descreveu as maravilhas de suas arquiteturas, desenrolando um francês que, para o nosso desespero, estava ainda mais afiado.
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