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terça-feira, 7 de junho de 2011

O BISCOITO DA DISCÓRDIA - Sandra Teixeira Ribeiro

O BISCOITO DA DISCÓRDIA

No final do ano zeravam nossas notas e tínhamos que, em poucos dias, estudar a matéria do ano inteiro para as provas finais, o que dava uma trabalheira incrível. No entanto existia uma segunda chance, a “segunda época”. Além disto, de qualquer maneira, ao contrário do que possa parecer, ninguém morria por causa daquilo e a medida funcionava como um teste de nervos, treinando para a própria vida que geralmente não dá prazo e, muito menos, várias chances. Assim também, ninguém se sentia a mais injustiçada das criaturas simplesmente porque, como na vida, as escolas, estabelecessem logo os limites entre o que era permitido, proibido e muito proibido.         

É claro que existiam os que abusavam. Como quando serraram as pernas da cadeira da professora. A armadilha fora planejada e executada às escondidas, pois, quando a cadeira desabou no chão, a maioria dos alunos assustou-se tanto quanto a substituta da professora que, num capricho do destino, exatamente naquele não pôde ir à escola. Ou como quando esconderam a chave da porta da cantina, segundo ouvi dizer, dentro de um biscoito que foi jogado no mato.
De qualquer forma a classe inteira ficava de castigo, depois do final das aulas, escrevendo a mesma frase por horas a fio. Claro que os inocentes também pagavam pelos pecadores e eu escrevi zilhões de linhas sem dever nem uma. Mas nenhum daqueles castigos deixou sequelas e, no mais, se eu tivesse que cobrá-los de alguém, teria ido atrás do autor da arte... No entanto, como o segredo permaneceu inconfessável, jamais pude exigir as minhas linhas perdidas...  

Porém, se acaso a balbúrdia total se instalasse na sala e o professor em questão não conseguisse controlá-la sozinho, sempre poderia contar com a intervenção de nossa querida Diretora, Dona Vera Bacha de Oliveira. No difícil cargo de administrar os destemperos de uma idade em que as pessoas não apenas se acreditam donas do mundo, mas principalmente, donas das razões da existência desse mundo, nossa diretora se desdobrava em mil. Precisava acertar na dose sempre e decidir, em segundos, qual a medida mais eficaz para os adolescentes desorientados. Olhando para trás, percebo como deve ter sido difícil a tarefa.



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