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domingo, 5 de junho de 2011

Regrinhas Básicas- Sandra Teixeira Ribeiro

MLN REGRINHAS BÁSICAS   MLN



Ao chegarmos ao segundo ano ginasial... Ou seria ao terceiro?... Bem, ao menos, esta dúvida é menor, pois tenho certeza absoluta que não era ao primeiro, nem ao quarto. Enfim, o certo é encontrávamos Dona Martha Antierio e já sabíamos que logo nos transformaríamos em atores. Tivéssemos ou não dom, ela fazia questão que conhecêssemos o mundo do teatro e apresentássemos uma peça na sala de aula, cujo nome evidentemente eu não lembro. De minha parte sei dizer apenas que fui um fracasso total, especialmente por não suportar a visão de uma de minhas colegas, com a maior naturalidade do mundo, se transformando num desconjuntado senhor com terno, chapéu e bigode. E mais: escarrapachada em uma cadeira, balançava uma enorme botina no pé. Portanto, como adolescente e narradora da cena, sofri com um ataque de risos e não consegui narrar coisa alguma. Felizmente Dona Martha, para não complicar mais minha vida estudantil, considerou válida a minha teatralidade absurda.        

Mas as aulas de português poderiam ser ainda mais dramáticas que uma simples encenação. Entrava ano, saía ano e eu nunca ficava íntima das tantas regras de nossa língua pátria, das exceções das regras, das regras das exceções e das exceções sem regras algumas... Faltou mencionar algo?... Ah, sim, os trilhões de exceções das exceções! Porém a história mal começava, pois logo chegaríamos às orações e embora eu ainda não tivesse familiaridade com nenhuma delas, querendo entender o que faziam, aconteciam, por que as pestes faziam e por que aconteciam, lá vinha a professora:

 — Ontem vocês aprenderam quais são as orações subordinadas substantivas e isto é fundamental — e frisava — é FUN-DA-MEN-TAL, ouviram?

Aí eu fazia cara de quem tinha uma orelha imensa e ela continuava:

—... Para que vocês entendam quais são as orações subordinadas adjetivas!

E disparava a desenhar as tais adjetivas no quadro negro e no ar, enquanto eu fervia os miolos tentando lembrar quais eram as substantivas...

 No final das contas eu não entendia nenhuma das duas, embora ela já planejasse, para o dia seguinte, explicar as adverbiais e — se não morrêssemos até lá — as reduzidas!

Depois se despedia da classe:

— Então, amanhã, encerraremos mais um capítulo de nosso currículo! Muito bem! Estão de parabéns!

Nos adeuses — coisa horrível este plural — eu engolia meus ais enquanto me convencia de que nem Freud solucionaria os meus problemas com o português!


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