Pesquisar este blog

terça-feira, 7 de junho de 2011

OS JORNAIZINHOS

OS JORNAIZINHOS
Sandra Teixeira Ribeiro

Os jornaizinhos mensais das classes do Ginásio de Cambuquira permaneciam pregados na parede do saguão de entrada e, por dias, viravam a atração principal, pois apesar de serem escritos e desenhados a mão, ficavam bem feitos e bonitos. Quanto ao de minha sala, embora eu não consiga lembrar o nome e, menos ainda, as suas secções principais, não me esqueço de uma das suas seções secundárias: “Curiosidades”, porque foi a destinada a mim.
Lembro também que, como não via muita graça nas curiosidades verdadeiras, logo pensei em inventar algumas. Então arquitetei um plano: diria que eu descobrira uma rádio estrangeira, praticamente impossível de sintonizar e que somente funcionava nas madrugadas, mas que divulgava notícias vetadas pelas censuras do mundo inteiro. Com a primeira parte do plano delineada eu passei a segunda que eram as notícias propriamente ditas. Assim eu as dividiria em temas como “Internacionais”, “Nacionais” e “Regionais”. Nas “Internacionais”, eu diria que escavações avançadas teriam desenterrado dos escombros da extinta civilização Maia uma máquina de fazer gelo que seria movida à manivela. Depois eu continuava com as noticias do Brasil, mentindo que na Floresta Amazônica existia uma civilização, muito desenvolvida que se escondia graças a uma erva que os deixava invisíveis. E, dentre as “Regionais”, pensei em destacar que em Cambuquira, nos primórdios de sua existência, habitavam pacatos gigantes que, de tão grandes, usavam as montanhas como travesseiros. E já inventava mais noticias do gênero quando, repentinamente, caí numa crise de consciência, avaliei melhor a situação e fiquei com medo que os verdadeiros inventores dos sorvetes se encrespassem comigo ou que fantasmas gigantes me perseguissem. Além disto, sabia que jornal era coisa séria e poderiam exigir que eu confessasse a exata sintonia da rádio.
Assim, na falta de material de pesquisa para a minha seção, fui atrás das confiáveis informações do Almanaque Fontoura das farmácias. Trazia a propaganda do fortificante, as historinhas do Jeca Tatu e sua própria seção de curiosidades. Fonte mais confiável não havia e, quaisquer dúvidas, que se entendessem com o seu Fontoura. Então eu apenas as copiava e os alunos que já as conheciam, teriam oportunidade de revê-las em nosso jornal, passadas a limpo por uma caligrafista qualificada, tal como merecia o periódico porque minha letra era e é horrorosa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.